segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Acordei...

No teto enxerguei o seu olhar com todo aquele brilho contido nele, às vezes perdido, preocupado como se quisesse me mostrar algo.

Levantei-me... No álbum de fotos jogado de lado, muitas fotos continha, mas uma delas me chamou a atenção, uma em especial, tirada na garagem aqui de casa, escondidos. No sorriso dele encontrava simplicidade, pureza, um pouco de receio, insegurança, parecia querer me dizer algo.

Fui à cozinha... Preparando meu suco lembrei-me das vezes que ele dividia as coisas comigo, sempre me deixara com o maior pedaço da bala, às vezes eu percebia um suspiro, nada de mais eu imaginava, mas hoje vejo que talvez quisesse dividir algo mais ousado.

Enfim, fui para o banho... Deixei o chuveiro ligado no inverno, enquanto mudava lembrei-me da promessa de passarmos todas as estações do resto de nossas vidas juntos, o vapor então tomava conta do box, enquanto isso eu escrevia seu nome no mesmo e por um instante senti o seu cheiro, mas só por um instante. Queria ficar ali, deixar a água quente cair sobre mim, e tentar resgatar ainda mais o cheiro, mas já estava a muito tempo no banho, minha mãe então me gritou, logo em seguida sai do banho.

O dia estava frio... A blusa dele não encontrei em meu guarda-roupa, muito menos o calor, a paz e a segurança de seu abraço que às vezes de tão forte parecia querer me roubar, eu não sabia, mas talvez quisesse me proteger de tudo e de todos.

Voltei para a cama... No travesseiro enxerguei o rosto dele, queria tocar, sentir mais uma vez sua pele, o toque dela, mas não tive sucesso, aquilo era apenas um travesseiro.

Fui então de encontro ao espelho... Em meus lábios senti que faltava algo, passei o meu batom, no mesmo instante senti o calor dos lábios dele, lábios que por vezes dançava sobre os meus e em alguns momentos se perdia em meu corpo, talvez quisesse descobrir cada detalhe.

Estava atrasada... Teria um dia longo e cansativo, ao abrir a porta imaginei que talvez ele estivesse ali com um bouquet de flores a minha espera, mas tudo que vi fora um dia nublado.

E assim seria o meu dia, um dia comum... Estava linda e com minha melhor roupa, mas sentindo falta daquele homem que por muitas vezes foi meu companheiro de aventura.

Penso que poderia pedir desculpas por tudo, mas sei que pra ele apenas o silêncio e um sorriso basta, mas não pra mim, não estou pronta e sei que ele sabe disso, de alguma forma ele sabe.
  • Carta enviada pela Melissa

domingo, 19 de setembro de 2010

Caro amigo,
Por que você fez isso? Por que você preferiu perder a amizade? Por que você fantasiou tantas situações?
Você já pensou que essa tal paixão é falsa? Que você se auto-engana acreditando que esse sentimento é real?
Como você pode dizer que é apaixonado por uma pessoa que não via há mais de quatro meses? Como você diz que é apaixonado por mim, sendo que eu não sou? A paixão é um sentimento recíproco, você não compreende isso?
Por que você criou essa situação tão desnecessária? Por que você preferiu perder a amizade que estávamos construindo?
Mas pergunto primeiro por que você se colocou na situação de meu amigo, sendo que não era isso que realmente você queria. Por que você resolveu arriscar tudo?
Agora não adianta me atacar. Não adianta dizer que eu estraguei tudo com a nossa última conversa.
Você precisa se resolver primeiro, se aceitar. Ser mais você, ser mais confiante!
Sua insegurança ofusca sua inteligência, sua prolixidade ofusca seus reais pensamentos. Não crie um personagem, eu sei quem você é, eu sei que você não é quem você mostra ser para os outros. Por que você não mostra para os outros quem você mostra para mim?
Digo essas coisas porque sou sua amiga, ou fui sua amiga.
Se conselho fosse bom nós venderíamos, mas aqui está a dica.
Beijos
da sua Amiga.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Contato?

Era 14 de agosto de 2010, um sábado para domingo, estava dormindo quando senti uma sensação estranha. Abri o olho e tudo piscava frenéticamente. Não era energia elétrica, mas minha visão em si.

Tentei mexer meus braços para acordar a minha esposa e não consegui mexer sequer um dedo.

Tentei então a comunicação através da fala ou do grito...impossível...fora a dor quase que insuportável na minha mandíbula.

Consegui então mexer o pescoço com muito esforço e ao mexer o olho e vi que minha esposa estava deitada e com o olho aberto...arregalado...mas totalmente fora de si e travada...como se estivesse em outro lugar.

Fechei o olho...sabia que algo estava me controlando...e após um minuto de concentração...despertei....acordei daquilo.

Bem, tudo estava calmo, mas eu ainda sentia que algo estava no quarto. Olhava para o corredor da bagunça e sabia que tinha algumas coisas pretas de 1,20m. Acordei a minha esposa, liguei a TV e fui ao banheiro. Não comentei nada para ela.

Me deitei novamente ainda com a sensação de que algo estava no quarto. Quando eu comecei a cair no sono novamente, percebi um flash de luz azul....indo embora do quarto...

Nessa hora tive certeza que eles foram embora.

Medo? Não.
Certeza de que algo bem real aconteceu ali? Absolutamente.

No outro dia comentei com ela, pois ela reclamava disso há 10 anos atrás no nosso namoro. Quando ela estava dormindo, sentava algo preto na cama e começava a enforcá-la e ela nada podia fazer a não ser tentar se livrar daquilo com os mesmos sintomas que eu passei: o travamento do corpo e a falta da fala.

Algo bom? Certamente não!

Ass: Anonimo

domingo, 5 de setembro de 2010

Carta ao meu melhor amigo

Querido amigo, como vão as coisas? Ou será que, como aqui comigo, elas também não caminham para canto algum, mas perdem-se alheias como homens cegos no meio do bang-bang?

Começar esta nova frase com “pois é” seria um bom começo. Bem clichê, verdade, mas quem se importa? Então, pois é, meu amigo querido, após todas estas vírgulas, que expressam aquilo que não tenho podido dizer verbalmente, creio que posso contar-lhe as aflições as quais destinei a esta carta tola.

Acho que toda esta delonga me serve para evitar chegar ao foco desta conversa que, em verdade, é um monólogo calado, tipografado, emocionado apesar da aparência fria. Emocionado porque tais emoções não permanecem contidas em mim, como dantes deveriam, mas vazam pelas mãos encarregadas de escrever letra por letra.

Ocorre-me que talvez eu esteja dentro de um paradoxo. Uma trama enfadonha, emaranhada em minha cabeça de forma que unhas compridas como as minhas são mais do que necessárias ao tentar desfazer alguns nós. É cada homem de um lado e eu no meio, com o pensamento dividido. Não, dividido não é o melhor vocábulo. Compartilhado, seria? Sim seria.
Enfim, meu pensamento comporta ambos: aquele que me lembra amor, casa, família e conforto; faz-me pensar em piqueniques e caminhadas à beira mar. Longos passeios sob a noite paulistana e as tardes fumacentas de outono sob as cobertas. Beijos mais felizes, tudo cor-de-rosa!

E há também aquele que, bem, não sei dizer se posso chamá-lo de antagonista em minha história, mas sim, sua marca em mim é indelével. Na pele? Não, não, antes fosse! Muito menos no coração, não foi assim, tão romântico. Foi mesmo na cabeça quando quis sentir meus cabelos sendo puxados. Ah, foi na barriga quando se suprimiu um beliscão ou na panturrilha por causa das mãos que nunca me agarraram assim. Mas sei de cor a cena de um único beijo e recordo-me de braços nada sutis escorregando do meu tronco para minha coxa.

Cansei-me, bom amigo, de sonhar com a realização de tantas provocações, de tantos estímulos e palavras idiotas sopradas, que ao contrário do que poderiam fazer, instalaram-se em mim como parasitas ressonantes, em vez de simplesmente esvanecerem ou serem esquecidas no ar. Não, não. Aqueceram-me! Encheram-me de desejos infindáveis. E não pense que foi minha culpa: culpa deste verão fora de época, culpa do sangue italiano dele, culpa daquele perfume brotando da pele, cheirando a terra pura, madeira, quente e úmido. Vaporoso. Etéreo. Culpa da carne de seus lábios rijos e da minha carne fraca, odeio admitir.

Enfim, nada passou da linha da boa amizade. Ora, ninguém vê que isto é tão falso? A realidade muitas vezes é tão óbvia e fazemos questão de fingir. Somos tão complacentes com os fatos, mas não conosco. O que me toma por ele é desejo, possessão, agonia até. Coisas das quais mulheres não deveriam falar, e, contudo, eu preciso abrir o canal da voz e cantar em versos breves que não é amor: é sina.

Esta não é uma boa história para um filme romântico. Nem mesmo um enredo de novela, não, não. É apenas uma carta ao melhor amigo de alguém que, em sua desimportância, acha bonito escrever, assim, de forma tão antiquada; alguém como eu, tão hipócrita, a primeira a defender que a verdade seja dita. Mas como? Aliás, por quais motivos se eu não tenho nenhum?

É, meu amigo, um grande erro meu querer preservar um amor tão lindo em detrimento de uma obsessão sem futuro, sem causa? É pecado querer amar, ser fiel e, de quando em quando, se permitir pensar em poucos momentos, os que aconteceram e os que jamais acontecerão com outra pessoa? Rolar no chão, rolar na cama, rolar na areia da praia. Sem tapete macio, sem lençol de linho, sem estrelas nem luar marítimo. Sem brisa noturna que me refresque. Sem me importar com o trejeito e o palavreado bruscos, com as manchas roxas, possíveis cicatrizes, sem um beijo de amor que compense. Querer um beijo de fogo que em segundos consome o comburente no lugar de brasa lenta.

Uma única faísca em uma mancha de gasolina e fim, o estrago está feito. E meu corpo desfeito, inerte e gelado no chão. Sadismo, acho eu. Talvez ele goste de esfriar a cabeça com uma mulher já fria, branca. Sem reação, sem pedidos a fazer exceto um único: o de não parar.

Sei que lhe parece estranho caro amigo. Fique, pois, tranquilizado: não hei de trocar um grande amor, aquele que me fez sorrir depois de tanto tempo tendo os dentes cobertos com uma espécie de burca chamada boca. Lembra-se? A boca fechada e olhos lacrimosos. Vermelha como um pimentão no sol, mais triste do que a mulher que todos os dias na rua me oferece serviços dentários. Pobrezinha, mal tem os próprios dentes. Ficar sem um amor, seria, pois para mim, como perder os dentes todos e jamais poder sorrir outra vez. Nem mesmo morder maçãs.

Não troco o conforto dos braços que me acolhem por paixão sazonal. Paixão? Mera tolice, ciúme é uma boa palavra. Não chega nem a tentação. Embora eu saiba bem que ele não deixa de tentar. Oferecido demais, indelicado demais. Hora ou outra é bom sentir mãos firmes agarrando-me os seios, mas prefiro mãos macias e dóceis em meus quadris, mãos mais preocupadas, manipuladoras, ludibriadoras que tapam meus olhos e me fazem cair em sonhos. Lembram-me nuvens emplumadas. A brutalidade para mim fica a poucos metros do real e, no amor, eu prefiro voar mais alto. Quero as estrelas, não o asfalto.

Saiba ao menos que continuarei ocasionalmente imaginando coisas. Recaídas, você compreende, meu amigo. Deixe estar, logo passa. Em breve o desejo que me põe no chão cederá lugar a uma paixão que me arrebate para o alto, nos braços de um homem que me pinte de pétalas nacaradas. Já o que me borra de sangue vermelho, bom, este será esquecido. E, infelizmente, muitas vezes relembrado, cada vez que a terra sob meus pés tremer e agitar meu corpo num balé que se dança no chão, com braços e pernas abertas.

Com saudades do amigo.

*Carta enviada por Lizz